sexta-feira, 22 de junho de 2012

ESPAÇO COLETIVO - Maria Emília Bottini

imagem net

QUEM VOCÊ É MARCA O MUNDO.
  Maria Emília Bottini [i]emilia.bottini@gmail.com

Há um provérbio judaico que diz: “Quem salva uma vida. Salva a humanidade toda”. Pois bem, creio nisto e penso que mais algumas pessoas também. Sou professora universitária e confesso que nessa profissão somos marcados por alguns alunos e outros conseguimos marcar, com nossa postura, nosso jeito de ser, nosso empenho pessoal e profissional.
No entanto, para alguns, nossas palavras são vazias e pouco ou nada ecoam.

Minha madrinha foi professora até aposentar-se. Foram anos de sua vida dedicados à educação. Trabalhou também na Biblioteca Municipal de Caxias do Sul (RS). Pessoa amorosa, estudiosa, dedicada a ajudar ao próximo quer fosse da família ou não. Escreveu um livro sobre a família Pan da Itália ao Brasil.

Passou grande parte de sua trajetória de vida amando pessoas e livros aos quais transmitiu seu amor e sua devoção. Quanto a mim, ganhei muitos livros de suas mãos. Quando ia passear em sua casa, a acompanhava em seu trabalho, eu era sua ajudante.  O bairro era pobre e lá a via ensinar com gosto, com paixão, sentimentos escassos no mundo da educação.

Lembro-me de sua casa povoada de lembranças de seus alunos. Objetos impregnados de emoções, fotos de alunos casados e com filhos. Ela marcou o mundo de muitos. Sou impregnada dessas memórias de seus ex-alunos, de sua vida de educadora e, acima de tudo, do exemplo de professora. Tento seguir seu exemplo, suas pegadas como filha do coração que sou. Fui adota carinhosamente por ela ao meu nascimento, pois meu nome vem de uma homenagem que fez a uma amiga que muito a ajudou.

Ela comentava de seus ex-alunos, das cartas que recebia. Como pessoa minuciosa as guardou em caixas, em álbuns e em especial havia uma dupla, Bernadete e Janete, que foram suas alunas em Além Paraíba (MG), ambas moram no Rio de Janeiro. Estive por lá por conta de um curso, comentou-me que poderia ficar na casa de Bernadete. Bem, lá fui eu. Bernadete pessoa doce e sensível que me mostrou o Rio de Janeiro quase de ponta a ponta, só não fez mais porque o tempo não permitiu e cada passo era um flash, tirei muitas fotos, estava tão feliz e emocionada por aqueles momentos lindos de vida e partilha. Conheci também Janete e fizemos passeios, jantamos, rimos, como diria o poeta Neruda confesso que vivi.

Eis que em dado momento Bernadete disse: sua madrinha esta fazendo setenta anos, temos que comemorar e então organizamos uma festa surpresa. Conseguimos reunir alguns familiares, amigos e ex-alunas. Gravamos um DVD com amigos, ex-alunos, pessoas que a conheceram e foi emocionante, gravei no impulso das emoções e as lágrimas brotavam com vários sentimentos envolvidos.

O que faz esses alunos ainda escreverem cartas, mandarem e-mails, a encontrarem-na no facebook, fazer festas, visitá-la, enviar fotos?

A resposta é bem simples na minha percepção, quem ela foi marcou o mundo, sendo uma excelente professora, a mais humana criatura que tenho o privilégio de conviver.

Ser professor, por vezes, é tarefa árdua e indigna, mas que pode marcar o mundo de alguém de forma intensa e irreversível.

[1] Psicóloga, Terapeuta Comunitária, Professora Universitária, Mestre em Educação pela Universidade de Passo Fundo (UPF), Doutoranda do programa de Pós-Graduação em Educação pela Universidade de Brasília (UnB).
Assina a coluna Cine Emoção do Conselho Regional de Psicologia 1º região - DF.

Nenhum comentário:

Postar um comentário