segunda-feira, 23 de julho de 2012

ESPAÇO COLETIVO - Saúde Mental Comunitária

Saúde Mental Comunitária

Por * em 22/07/2012
 
Haviam passado já algumas horas, talvez mais tempo, não sabia. Algumas coisas muito importantes nas nossas vidas, às vezes permanecem em nós como que abafadas por algum tempo, até brotarem e darem frutos.
Peguei o hábito de escrever algumas experiências em saúde mental comunitária, desde o ano de 2001, quando comecei a acompanhar a minha esposa Maria, Ana Vigarani, Djair e algumas outras colegas da militância cristã de base, que fazem trabalhos em saúde nos bairros de João Pessoa, como José Américo e Alto do Matheus.
Aprendi muitas coisas.
Na verdade, comecei como que a me trazer de volta nessas jornadas, aparentemente tão distantes do que seria a sociologia.
De fato, verdadeiras imersões num esforço coletivo, muito pouco visível, mas efetivo, de construção de redes solidárias, de formação de vínculos.
Agora, percebo que não foram algumas horas, mas fazem já mais de dois dias desde o retorno de Lagoa Seca, onde participei da formação de uma turma de terapeutas comunitárias e comunitários.
Estes dias passados com estas pessoas, foram de grande significação para mim. Já disse isto antes, mas repito.
Não tem nada de mais com as repetições. Às vezes é necessário repetir algumas coias que vivemos, para que fique gravado em nós o fruto destas experiências.
Um dos momentos que mais me ficou gravado na memória, foi a conversa na primeira noite, em que cada uma, cada um, falamos um pouco das nossas vidas, do que nos trouxe para a Terapia Comunitária.
Os dias foram passando. As jornadas indo uma atrás da outra.
O som da musica de manhã, acordando todo mundo para as vivências. Os cafés da manhã no refeitório, onde podiam ser vistas artesanias no muro do lado direito, feitas em barro, muito belas.
O jardim central, onde, embaixo de uma planta, uma gata amamentava uns gatinhos.
A estatua da virgem no centro, com uma criança ao lado.
A capela.
Os corredores. Os jardins externos, cheios de flores e árvores. Os dias passados, um atrás do outro. E hoje, depois da despedida na pizzaria em Campina Grande, uma despedida que não é despedida, e sim o selo de uma amizade construída e em construção.


* Rolando Lazarte, sociólogo, terapeuta comunitário, escritor. Primeiro Diretor de Comunicação Social da ABRATECOM-Associação Brasileira de Terapia Comunitária. Membro do MISC-PB. Acesse os blogs http://rolandolazarte.blogspot.com/ e http://rolandolazarterapeutacomunitario.blogspot.com

domingo, 15 de julho de 2012

ESPAÇO COLETIVO - ROLANDO LAZARTE

Construindo redes comunitárias, empoderando pessoas
Por em 15/07/2012

Muitas vezes, desejamos comunicar alguma coisa, partilhar algo que nos chama a atenção, ou que consideramos valioso. Nos dias de hoje, com frequência estas trocas de mensagens se referem ao chamado mundo externo, a fatos sobre os quais temos muito pouca ou nenhuma capacidade de modificá-los.
Neste contexto, trocas de mensagens sobre pequenas coisas do mundo cotidiano, tendem a passar despercebidas, ou a serem descartadas, por considerá-las irrelevantes. No entanto, é nessas pequenas partilhas que muitas vezes colhemos importantes informações sobre a vida.
Neste momento, gostaria de partilhar com as leitoras e leitores de Consciência, coisas que me está sendo dado observar nestes dias de permanência no antigo Colégio Marista de Lagoa Seca, no interior da Paraíba.
Estive neste colégio no ano passado, em setembro. Naquela ocasião, foram dias passados acompanhando um curso de Cuidando do Cuidador, ministrado a trabalhadoras e trabalhadores do sistema público de saúde.
Agora, trata-se da formação em Terapia Comunitária, de estudantes de enfermagem da UFPB, e outras pessoas interessadas, vinculadas ao cuidar em serviços de saúde da rede pública.
Tivemos a oportunidade de dizer por que cada um, cada uma, estávamos vinculados à Terapia Comunitária Integrativa, ou a ela querendo nos vincular.
Razões de recuperação da própria auto-estima. Valorização de si mesma e si mesmo. Crescimento a partir da alquimia interior realizada a partir de dores sofridas na vida, frequentemente na primeira infância, ou depois.
Uma rede é algo que nos sustenta, mas também nos contém, nos dá uma sensação de pertencimento. E também nos comunica. Estes pequenos fatos, o fato de haver uma reunião como ésta, tem importância na medida em que se trata de um tempo que algumas pessoas dedicam a si mesmas.
Retiram-se de um cotidiano que muitas vezes as leva a um trabalho estafante, e voltam-se para o seu próprio ser. este voltar-se para dentro, redunda em enormes benefícios. Depois deste encontro profundo consigo mesma, que desata um processo de auto-descoberta e aprendizado contínuo, a pessoa passa a ter de si uma noção mais compreensiva e dinâmica.
Criam-se percepções menos preconceituosas sobre os demais e sobre si mesmos. Sobre a própria história de vida e sobre o mundo de que fazemos parte. Conto estas coisas, porque muitas vezes não se da o suficiente valor a atos aparentemente pequenos, pouco importantes, mas que vão consolidando um empoderamento pessoal e comunitário que vai abrindo espaço para a construção de um mundo mais justo e amoroso.

Autor: Rolando Lazarte, sociólogo, terapeuta comunitário, escritor. Primeiro Diretor de Comunicação Social da ABRATECOM-Associação Brasileira de Terapia Comunitária. Membro do MISC-PB.