quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O retorno a si mesmo na Terapia Comunitária Integrativa - Rolando Lazarte

Gente querida. A TCI nos põe no caminho de volta para a pessoa que somos.
Não há ninguém igual a nós neste mundo. Podemos começar a experimentar a
aventura de sermos nós mesos. Nada é tão prazeroso. Um grande abraço.
Rolando

O retorno a si mesmo na Terapia Comunitária Integrativa

Por em 24/09/2012
 
Hoje pensava, verdadeiramente, que na Terapia Comunitária Integrativa a pessoa se descobre vencedora. Lembrava de diversas dores, muito grandes, sofridas ao longo da minha vida, desde a infância ate não muito tempo atrás.
 
As dores doem, sem dúvida. Não é verdade? Mas na Terapia Comunitária Integrativa, a gente aprende a ver cómo essas dores foram me tornando alguém mais amoroso, mais acolhedor. Mais persistente na construção dos meus próprios sonhos, mais eu mesmo. Até os meus descaminhos me ensinam o que não quero, o que não é meu, o que não tem a ver com meus valores.
 
Cada pessoa cultiva muitos sonhos ao longo da sua vida. Sonhos de menino ou de menina, sonhos de jovem, de adolescente, de adulto. Os seres humanos estamos sempre construindo sonhos. A própria realidade, a nossa própria realidade humana, tem muito de sonho.
 
Lembro de alguns sonhos de jovem, de adolescente. Paz, amor, justiça, não violência, não racismo, não discriminação, não fome, não dominação. Hoje estes sonhos estão se realizando na teia da minha vida, na teia da Terapia Comunitária Integrativa.
 
A pessoa atravessa muitas dificuldades na sua vida, se estranha de si mesma. Des-conhece o seu próprio valor, mas um dia pode isto mudar, e muda. Um dia você pode ver o que foi que fez com que você vencesse, com que você pudesse chegar até aqui.
 
Você começa a se re-conhecer quando você começa a se ver nas histórias de vida das outras pessoas.
 
Você começa a recuperar características suas, da sua personalidade, da sua maneira de ser, que foram ficando para atrás por conta de socializações forçadas, de adaptações que você se viu obrigado ou obrigada a fazer.
 
Aos poucos uma sensação nova começa a ser cada vez mais permanente em você e você se pergunta: o que foi que aconteceu? É que você voltou, você está de novo aqui, você é outra vez você mesmo, você mesma. A vida deixa então de ser algo estranho e imposto, ela vem de dentro, outra vez.
 
 Outra vez você vai fluindo com a vida.
 
Vai descobrindo que o que tem pela frente é algo totalmente novo, e, ao mesmo tempo, totalmente enraizado na sua caminhada até aqui, nos seus valores essenciais, na pessoa que você é.
 
A sensação de integração dá um prazer imenso, é o fim do estranhamento, o fim da alienação, o fim da dissociação.
 
A vida e você são, outra vez, uma só e a mesma coisa.
 
Rolando Lazarte, sociólogo, terapeuta comunitário, escritor. Primeiro Diretor de Comunicação Social da ABRATECOM-Associação Brasileira de Terapia Comunitária. Membro do MISC-PB. Acesse os blogs http://rolandolazarte.blogspot.com/ e http://rolandolazarterapeutacomunitario.blogspot.com

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Pacatuba inova na Educação com Terapia Comunitária INTEGRATIVA

Trabalho de Terapia comunitária em Pacatuba é premiado internacionalmente


Publicado em 31/05/2012 - 6:16 por
 
O trabalho “I Formação em Terapia Comunitária Integrativa com Ênfase na Educação”, aplicado em Pacatuba, e elaborado pela mestra e coordenadora da Escola de Saúde Pública do Ceará, Miriam Rivalta Barreto, foi o único trabalhado premiado no Brasil na categoria no III Concurso Ibero – Americano de Boas Práticas de Promoção da Saúde no Contexto Escolar, promoção da Organização Pan Americana de Saúde (OPAS), Organização Mundial de Saúde (OMS), Proinapsa e Universidade Internacional de Santander – Colômbia. A divulgação ocorreu este mês.
Surgida de forma pioneira no Ceará, a Terapia Comunitária é uma metodologia, hoje, aplicada em vários países. Atualmente, são 35 educadores da rede municipal de educação de Pacatuba, que estão em formação, realizando 24 rodas de terapia semanalmente nas diferentes escolas do município, com crianças, adolescentes, adultos – alunos do Educação de Jovens e Adultos(EJA)-, pais, mães, gestores, professores, motoristas, outros. A formação é uma promoção da Secretaria Municipal da Educação de Pacatuba. Ressalte-se que o Núcleo de Abordagem Sistêmica da Secretaria de Educação iniciou em 2008 ações de Terapia Comunitária.
Mirian Rivalto Barreto disse que é um projeto que articula saúde com o projeto político-pedagógico, “onde a escola sinaliza que está indo além do conteúdo programático, está vendo o ser humano em sua totalidade”. Além de promover o bem-estar físico, mental e social, e coletivo.
“Pacatuba está mostrando que vê que o ser humano tem potencialidade e que todos, agindo juntos, pode-se contruir uma rede de ajuda, articulando a comunidade para promover a solidariedade.
Beneficiados
A Secretaria de Educação de Pacatuba beneficia hoje, aproximadamente, 5 mil crianças com o trabalho de Terapia Comunitária. “Ela consiste em trabalhar o eu de cada um. É preciso a gente se conhecer melhor para conhecer o outro. E essa providência é importante inclusive na luta contra o Bullying”, destaca a coordenadora do Núcleo de Abordagem Sistêmica da Secretaria, Liduína Cavalcante. Segundo a coordenadora, Pacatuba é o primeiro município do País a inserir essa atividade na Escola, contemplando professores, alunos e demais profissionais. “O professor não trabalha só com a informação, mas com o corpo todo”, destacou ela.
Oportunidade
Para a diretora da Escola Ana Albuquerque Campos, Euda Monteiro, o projeto trouxe uma oportunidade para que os profissionais da educação conhecessem melhor a vida dos alunos, de como eles vivem, de que precisam. “É uma troca, você fala, você escuta as necessidades de estudantes, dos pais, da família”. E como resultado, a mudança no comportamento dos jovens. “Eles ficaram mais disciplinados, melhorou a autoestima, estão mais abertos para conversar e também escutarem conselhos”, completou.
A promoção do trabalho é da Secretaria Municipal de Educação, a realização é do Centro de Estudo e Pesquisa da Família e da Comunidade, sob a coordenação de Mirian, e conta com o apoio do Movimento Integrado de Saúde Mental Comunitária do Ceará.
Outros países que ganharam esse prêmio: Argentina, Colômbia e Equador.
EVELANE BARROS
SUBEDITORA DO REGIONAL


Publicado em 04/10/2011 - 7:03 por
 
Qualificar o ensino público por meio da solução de conflitos e no aumento da autoestima. Esses são os objetivos do Programa de Terapia Comunitária Interativa, que vem sendo desenvolvido em Pacatuba, por meio da Secretaria de Educação. Esta semana, por ocasião dos festejos de emancipação do Município, a atividade será intensificada em todas as 33 unidades de ensino.
O projeto é baseado no Programa de Terapia Comunitária e Interativa, concebida pelo psiquiatra Adalberto Barreto. Dividida em cinco módulos, a expectativa é que todo o ciclo esteja concluído até março de 2012 em todas as escolas infantis e de Ensino Médio.
De acordo com a coordenadora do Núcleo de Abordagem Sistêmica da Secretaria, Liduína Cavalcante, não há necessidade de se concluir todo o programa para a obtenção de resultados. Ela explicou que a cada módulo há o funcionamento de uma metodologia prática, que pode ser aplicada no dia a dia de alunos, pais e professores. “A Terapia Comunitária consiste em trabalhar o eu de cada um. É preciso a gente se conhecer melhor para conhecer o outro”, destaca. Ela diz que a cada reunião os participantes trocam experiências sobre como vencer as dificuldades do cotidiano, desde as pequenas intrigas aos problemas mais graves, envolvendo a sociabilidade e o rendimento escolar dos alunos.
Segundo a coordenadora, Pacatuba é o primeiro Município do País a inserir essa atividade na Escola, contemplando professores, alunos e demais profissionais. “O professor não trabalha só com a informação, mas com o corpo todo”, destaca. A terapia já existe na Escola Clóvis de Castro Pereira (Ceru).
 
Seleção
O curso, que teve início no fim de setembro, contando com aulas de teoria, prática, vivência e estágio. Todos os participantes são professores concursados. Cerca de 30 professores foram pré-selecionados.
Na primeira reunião sobre o projeto, houve a palestra de Mírian Barreto, representante do Movimento Integrado de Saúde Mental e Comunitária do Ceará. “Esse foi o primeiro passo. A ideia agora é formar os nossos professores para levarem essa atividade extra às escolas”, disse a secretária de Educação, Ana Kelly Pinto Cavalcante. Ela conta que a ideia surgiu da necessidade de se buscar alternativas não convencionais que implicassem no melhor rendimento escolar.
“São alternativas de baixo custo e eficientes nos seus objetivos, porque trabalha com sensibilidades, percepções e troca de experiências”, disse Ana Kelly. Ela acredita que até março do próximo ano, todas as escolas estejam já utilizando essa metodologia e demonstrando resultados significativos no aprendizado do aluno.
Para a secretária Ana Kelly Pinto Cavalcante, “a Terapia Comunitária integrativa ajuda não só os profissionais da educação, mas também a comunidade, a compreender que o saber científico e o saber popular caminham juntos”.
 
Distritos
 
O trabalho abrangerá, desse modo, a sede, e ainda os distritos de Jereissati, Pavuna e Monguba. A metodologia será aplicada ainda para os pais de alunos com necessidades especiais e ainda dos Alunos da Escola de Jovens e Adultos (EJA).
Segundo a coordenadora Liduína Cavalcante, a providência é importante inclusive na luta contra o Bullying, termo que se refere a formas de convivência agressivas, sejam elas verbais ou físicas.
O Núcleo de Abordagem Sistêmica da Secretaria de Educação iniciou em 2008 o projeto inicial de Terapia Comunitária. No modelo realizado até agora, vem acontecendo encontros aos sábados com o intuito de trabalhar a inteligência emocional dos educadores do Município.
A terapia dispõe de dinâmicas como relaxamento, meditação, terapia comunitária, música, biodança, entre outros. Compõem o núcleo desde psicóloga a fonoaudióloga, bem como pedagogas e psicopedagoga.
 
Humanização
 
De acordo com Liduína Cavalcante, a ideia é trabalhar a humanização dos profissionais para que eles possam desempenhar ainda melhor suas relações de trabalho, permitindo inclusive uma maior interação com os alunos.
Ela lembrou que essas atividades serão intensificadas esta semana, em vista das comemorações do aniversário do Município, que dia 8 completa 142 anos de criação.
Liduína explica que esse esforço será reforçado esta semana, também com intuito de promover um sentimento cívico da população com a festa do Município. Daí que cerca de 35 profissionais irão percorrer as escolas municipais já para difundir o projeto de Terapia Comunitária e Interativa.
“Nós vamos realizar esse trabalho de modo mais intenso nesse período, entretanto, sabemos que os resultados muito rapidamente serão apresentados. Isso significa que nossos esforços serão compensados, a partir da sensibilidade e determinação em oferecer uma escola de boa qualidade para o aluno”, afirmou a coordenadora.

 

TERAPIA COM MOVIMENTO DOS OLHOS

Terapia trabalha com movimento dos olhos para tratar de traumas a medo de avião

Rosana Faria de Freitas
Do UOL, em São Paulo


Abalos resultantes de assaltos, mortes violentas de pessoas próximas, abusos sexuais ou estupros, fobias, desordens de pânico: estas são algumas das aplicações de uma intervenção que poucos conhecem, mas tem se mostrado muito eficiente, o EMDR – Eye Movement Desensitization and Reprocessing, ou Dessensibilização e Reprocessamento por meio dos Movimentos Oculares.
 
Trata-se de uma forma de psicoterapia que utiliza o movimento dos olhos para curar estes e outros problemas. Para você entender melhor: traumas e lembranças dolorosas são armazenados de forma mal-adaptativa no cérebro. A técnica reprocessa tais lembranças que mantêm a pessoa presa ao passado, integrando informações que se encontram separadas nos dois hemisférios cerebrais. De forma acelerada, o método ‘imita’ o que acontece com as pessoas durante a etapa do sono REM - Rapid Eye Movement, ou Movimento Rápido Ocular, momento em que o cérebro processa a informação e a arquiva ao passado.
 
“Por alguma razão ainda não completamente compreendida, em determinadas situações o indivíduo não consegue realizar este armazenamento de forma normal e saudável, de onde possivelmente advêm os pesadelos, sobressaltos, pensamentos intrusivos e obsessivos, ataques de pânico e, em exemplos mais graves, o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) e suas consequências. Em casos excepcionais, o indivíduo pode desenvolver os Transtornos Dissociativos de Identidade, em geral associados a histórias de abalos crônicos, repetitivos e constantes, especialmente da infância”, destaca Esly Regina de Carvalho, mestre e doutora em psicologia, treinadora pelo EMDR Institute e pela EMDR Iberoamericana, supervisora de psicodrama pelo American Board of Examiners in Psychodrama and Group Psychotherapy.
 
“O trauma é mais um transtorno do sono do que da memória. É durante o repouso que normalmente trabalhamos as lembranças do dia. Porém, quando acontece algo muito forte, o indivíduo não consegue processar tudo e parte fica armazenada de maneira disfuncional.
Os pesadelos são entendidos como uma tentativa frustrada de digerir a lembrança”, explica Carvalho.
 
O método foi criado nos Estados Unidos, no final dos anos 1980, pela médica Francine Shapiro. Ela conta que estava caminhando por um parque em 1987 e se deu conta de que os fatos ruins que vieram à sua cabeça perderam a carga negativa.
 
Quando pensou sobre o que tinha acontecido, se deu conta de que seus olhos tinham se mexido. Aí, começou a fazer experimentos com amigos e parentes, se dedicou a pesquisas com veteranos da guerra do Vietnã e publicou os primeiros estudos em 1989.
 
“Inicialmente, o sistema foi utilizado para tratar sequelas provocadas por Transtornos de Estresse Pós-Traumático, mas temos ampliado as possibilidades de intervenção (veja tabela abaixo). Além de quadros resultantes de ansiedade generalizada, fobias, síndrome de pânico e depressões, os resultados são promissores com doenças psicossomáticas e aprimoramento de desempenho futuro”, destaca Esly.
 
A técnica:
 
O terapeuta imita o sono REM – e, dessa forma, faz a estimulação bilateral do cérebro – pedindo para o paciente seguir seus dedos de um lado para o outro do campo visual, enquanto deve pensar na situação que causa a perturbação. “Seguimos um detalhado protocolo para que isso se desenvolva. O fato de a pessoa acompanhar os dedos dá o arranque para o cérebro reprocessar a lembrança.”
 
É possível, ainda, usar outras formas de estímulos bilaterais, a auditiva e a tátil, para alcançar o mesmo resultado. “Durante a sessão, empregamos aparelhos que fazem ‘bip bip’ em cada ouvido; ou, então, tocamos em uma mão e depois na outra, enquanto o indivíduo novamente relembra o passado.”
 
Tratamento:
 
O tratamento compreende oito fases. Na primeira, o paciente compartilha sua história clínica e o terapeuta identifica os traumas e lembranças dolorosas que serão abordados em futuras sessões. Na segunda, instalam-se recursos positivos - como a visualização de um lugar tranquilo, por exemplo - para ajudar a enfrentar momentos difíceis dentro e fora do consultório.
 
“Na terceira fase, ‘abre-se’ o arquivo cerebral a ser trabalhado por meio dos resgates de imagem, crenças, emoções e sensações vinculadas ao evento chave em questão. Na quarta, o terapeuta aplica os estímulos bilaterais que darão o arranque ao cérebro para que possa desenvolver o reprocessamento que resultará na dessensibilização da lembrança”, ressalta a psicóloga. Cada sessão leva de uma a duas horas.
 
Nas etapas seguintes, crenças negativas são substituídas por positivas e é feita uma avaliação dos resultados. “Há protocolos e escalas criados, além de novas abordagens. A comprovação da eficácia é atualmente inegável” – diz ela.
 
Resignificação do passado:
 
É bom que se diga: não há um tratamento padrão. “Em alguns casos, operamos com questões pontuais – como um acidente ou assalto. Em outros, numa situação mais ampla e difusa, sem causas aparentes, é preciso fazer uma extensa pesquisa clínica para conhecer vínculos afetivos, vivências, passagens difíceis ou dramáticas. E estabelecer, a partir daí, uma ligação com o que a pessoa apresenta no presente como queixa ou sintoma”, explica Silvia Guz, psicóloga especialista em Psicoterapia Corporal pós-Reichiana e Psicoterapia Breve – Abordagem Corporal, presidente da Associação Brasileira de EMDR.
 
Segundo a terapeuta, o método não muda o que aconteceu, mas o olhar do indivíduo, sua perspectiva para o fato do passado. “E é nessa ressignificação que se encontra a cura e o alívio para o que antes parecia impossível.” Segundo Esly, uma das frases mais comuns de pacientes é “acabou, agora ficou distante, está no passado”.
 
André Maurício Monteiro, mestre e doutor em Psicologia, docente supervisor em Psicodrama, com estágio pós-doutoral em Arte-terapia no Psychiatrische Dienste Thurgau, na Suíça, observa que não são poucos os indivíduos que perdem a capacidade de diferenciar o ontem do hoje. “A pessoa sabe que aquele sofrimento pertence ao passado, mas sente a força da emoção como se fosse algo muito recente, o que a deixa insegura e apreensiva.
 
Um som, um cheiro, uma imagem, um pensamento – qualquer coisa pode ser suficiente para trazer de volta o imenso desconforto.” 
 

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Você só tem sofrido, ou tem crescido com seu sofrimento?

Por em 17/09/2012
 
Você só tem sofrido, ou tem crescido com seu sofrimento? Poucas perguntas podem ter o efeito de reintegrar tanto uma pessoa à sua própria trajetória existencial, quanto esta. Esta pergunta repõe a gente, também, no quadro da humanidade, pois não tem um ser humano que não esteja desafiado a ressignificar, constantemente, todas e cada uma das dores pelas que passou ou passa.
Como muitas outras perguntas e reflexões que se escutam nas vivências da abordagem barretiana (1), o que importa mais, no meu modo de entender, é o espaço que possa vir a ser dado, e não tanto as respostas ou explicações.
Entendo que a Terapia Comunitária e os cursos de Cuidando do Cuidador, enquanto espaços de reconstrução da pessoa humana, abrem espaços internos no ser humano, permitindo com que a pessoa posa se experimentar a si mesma de outras maneiras, e não apenas daquelas formas estereotipadas ou habituais às que tinha se acostumado.
Quando eu escuto Você só tem sofrido, ou tem crescido com seu sofrimento? e acolho a pergunta, posso ver que o que me faz ou me fez sofrer, circunstâncias do presente ou fatos do passado, características da minha personalidade ou das minhas relações inter-pessoais, podem ser fontes de aprendizado, por um lado, e de integração no grande tecido humano, por outro.
Fontes de aprendizado, porque muitas vezes o que me faz ou me fez sofrer, pode estar me mostrando indícios de novas formas de ação ou de interpretação às quais posso estar sendo encaminhado. Maior fluidez, mais jogo de cintura, soltar os pensamentos, menos expectativas sobre os outros ou sobre mim mesmo.
Creio que muitas pessoas, entre as quais me conto, percebem que as suas dores doeram menos a partir do momento em que se situaram ou situam em um contexto de dores maiores ou iguais. Isto quebra a vitimização, a paralisia, a sensação de ser um condenado, um perdedor.
A culpa, por outra parte, perde o seu peso esmagador, quando percebo que todos erramos, eu e os ouros e as outras, e que errar é uma forma de aprender.
(1) Adalberto Barreto, criador da Terapia Comunitária Integrativa.
 
Rolando Lazarte, sociólogo, terapeuta comunitário, escritor. Primeiro Diretor de Comunicação Social da ABRATECOM-Associação Brasileira de Terapia Comunitária. Membro do MISC-PB. Acesse os blogs http://rolandolazarte.blogspot.com/ e http://rolandolazarterapeutacomunitario.blogspot.com

domingo, 16 de setembro de 2012

Bola de Meia,Bola de Gude - MILTON NASCIMENTO


http://www.youtube.com/watch?v=My_OsqkDSjs

Bola de Meia, Bola de Gude

Milton Nascimento

Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança
Ele vem pra me dar a mão
Há um passado no meu presente
Um sol bem quente lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa me assombra
O menino me dá a mão
E me fala de coisas bonitas
Que eu acredito
Que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito
Caráter, bondade alegria e amor
Pois não posso
Não devo
Não quero
Viver como toda essa gente
Insiste em viver
E não posso aceitar sossegado
Qualquer sacanagem ser coisa normal
Bola de meia, bola de gude
O solidário não quer solidão
Toda vez que a tristeza me alcança
O menino me dá a mão
Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto fraqueja
Ele vem pra me dar a mão

domingo, 9 de setembro de 2012

ROLANDO LAZARTE - Você e quem você é, ou quem os outros esperam que você seja?


 Você e quem você é, ou quem os outros esperam que você seja?
Por em 07/09/2012
 
imagem: Adalberto Barreto
 
Você é quem você é, ou o que os outros esperam que você seja? Você é quem você é, ou o que os outros esperam que você seja? Você é quem você é, ou o que os outros esperam que você seja? A pergunta se repete três vezes, para ver se a pessoa é capaz de escutá-la. Você é quem você é, ou o que os outros esperam que você seja? Não importa tanto a resposta, e sim que você seja capaz de escutar a pergunta. Você pode escutar a pergunta, acolhe-la. Fazer um espaço, um lugar dentro de você mesmo ou você mesma. Se você for capaz de acolher esta pergunta, você poderá experimentar algo novo dentro de si. Poderá sentir algo como o seu ser autêntico.
O Dr. Adalberto Barreto diz que temos que ouvir a pergunta três vezes, para podermos de fato escutar. Tenho ouvido esta pergunta muitas vezes, ao longo de todos estes anos de Terapia Comunitária Intergativa, vivências de Cuidando do Cuidador (Resgate da Auto-estima). Tenho ouvido esta pergunta muitas vezes, mas nem sempre a tenho escutado, nem sempre a tenho acolhido. Estava mais preocupado em responder, em dizer se era eu mesmo ou o que outros tinham esperado ou esperavam de mim. Agora já não me preocupa mais tanto saber de fato se sou eu mesmo ou o que os outros esperam de mim.
O que quero partilhar aqui e agora, sobre tudo, é isto: que quando acolho a pergunta, se abre um espaço em mim. Sou mais eu, se posso escutar a pergunta. Se posso pensar nisto, estou sendo mais eu, e menos o que outros esperam de mim. Não há nada de errado em sermos em parte o que outros esperam de nós. Creio que, de fato, sempre seremos em parte algo que outras pessoas que moram conosco, ou que nos são muito queridas ou muito significativas, esperam ou esperaram de nós. Mas não podemos ser apenas o que alguém espera ou esperou de nós. Podemos acolher a pergunta. Então podemos começar a saber.
O ser humano nunca é exclusivamente o que ele quer ser. Aliás, não sei se, em definitiva, algum dia poderemos vir a saber o que somos, em verdade. Mas outra vez, repito, o que vale não é tanto a resposta, mas o espaço que se abre em nos, quando acolhemos a pergunta. Uma resposta pode ser uma justificativa, uma defesa, uma tentativa de satisfazer as expectativas próprias ou alheias. A pergunta não, a pergunta nos conecta com um silêncio, com algo maior. Daí a genialidade, a profunda fecundidade e efetivo potencial de recuperação da pessoa humana, do sistema de conhecimento criado pelo Dr. Adalberto Barreto, a Terapia Comunitária Integrativa.
Não se trata tanto de encontrar a resposta certa, respostas certas, mas, sim, de conectar com a realidade, de contatar o que está aqui, isto que cada um de nos é. Por isso, penso que se trata de um método efetivo pelo qual podemos vir a saber quem somos, ou, ao menos, deixar de crer que somos o que não somos. Isto não é somente um jogo de palavras, embora seja muito bom jogar com as palavras. De tanto jogarmos com elas, elas começam a jogar conosco, e começamos e ver alguma coisa, começamos a poder ver um vislumbre da realidade.
Eu sou sociólogo, como meu pai queria que fosse, e não artista, pintor, como eu queria ser. Mas não sou o sociólogo que meu pai queria que eu fosse, e sim o sociólogo que eu queria ser, embora não soubesse ao certo o que era isto. Estou sabendo agora, no decorrer desta aventura do conhecimento que é a Terapia Comunitária Integrativa, onde o que importa não é consolidar alguma interpretação sobre a pessoa, e sim a sua libertação, o seu respirar, a sua emancipação.
Era isto o que eu queria quando me embrenhei, com meus colegas estudantes de sociologia da Universidad Nacional de Cuyo, de Mendoza, Argentina, na construção de uma carreira de sociologia a serviço da libertação, nos anos 1970, embora naquela época para nós, e em especial para mim mesmo, isto não estivesse claro como o está começando a ser agora. O que estou tentando dizer, ao explorar esta pergunta sobre o ser autêntico, que o Dr. Adalberto Barreto nos faz, é o seu potencial efetivamente eficaz, se me permitem esta expressão, é o quanto podemos abrir um espaço para nós mesmos ou nos mesmas, quando acolhemos a pergunta. Quando podemos escutar, de nos mesmos: Você é quem você é, ou o que os outros esperam que você seja?
E posso começar a ser mais eu mesmo, eu mesma, se puder escutar esta pergunta, se puder me perguntar pelo meu próprio ser. Esta pergunta, de longa tradição filosófica e religiosa, nos leva a um ponto de convergência do saber prático, popular, e cientifico-religioso.
 
 

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O VENDEDOR DE BALÕES por *Maria Emilia Bottini

imagem net

 O VENDEDOR DE BALÕES
 

Certa vez ganhei de uma amiga da vida inteira o livro: Belas Parábolas sobre Sucesso de Alexandre Rangel, nele há uma pequena história que vale a pena ser partilhada.
 
Era uma vez um velho homem que vendia balões numa quermesse. Evidentemente, o homem era um bom vendedor, pois deixou um balão vermelho soltar-se e elevar-se nos ares, atraindo, desse modo, uma multidão de jovens compradores de balões. Havia ali perto um menino negro que estava observando o vendedor e, é claro, apreciando os balões. Depois de ter soltado o balão vermelho, o homem soltou um azul, depois um amarelo e, finalmente, um branco. Todos foram subindo até sumirem de vista. O menino, de olhar atento, seguiu a cada um. Ficava imaginando mil coisas...
 
Uma coisa o aborrecia: o homem não soltava o balão preto. Então, aproximou-se do vendedor e perguntou-lhe:
 
Moço, se o senhor soltasse o balão preto, ele subiria tanto quanto os outros?
 
O vendedor de balões sorriu compreensivamente para o menino, arrebentou a linha que prendia o balão e, enquanto ele se elevava nos ares, disse-lhe:
 
Não é a cor, filho, é o que está dentro dele que o faz subir.” (Anthony de Mello)

 Gosto de pequenas histórias, do que elas podem em tão pouco nos dizer, nos fazer refletir para além de nossos limitados pensamentos diários, fragmentados sobre tudo e todos. Amo de paixão balões, sobretudo coloridos, acredito que a menina que vive em mim nunca os abandonou.
Essa pequena história me faz refletir que somos seres de preconceito, carregamos em nós a marca do julgamento que dói e desfere frases e atitudes que ferem e desmerecem os outros por tratarmos das diferenças com indiferença.
Parece que sempre nos julgamos melhores, mas será bem assim?
Como diz o vendedor é o que está dentro que faz subir os balões. Se pensarmos em pessoas como balões uns coloridos e outros sem cores, há as que sobem alto, muito alto cheias de generosidade, de compaixão, de amor e de doação e contribuem para que outras subam juntas e depois são soltas para seus próprios experimentos e voos.
Porém, há os que não sobem míseros centímetros do chão carregadas de ódio, de rancor, de solidão, de mágoas, de mau humor, ficam tão pesadas de conviver e por vezes a pesar na vida de outros e a segurar seus voos, suas existências.
O que temos dentro de nós que nos faz subir?
É uma boa pergunta diante de um mundo de possibilidades.
Ser mais humano, ser mais gente, talvez isso pudesse de alguma forma elevar nossa humanidade e com ela a humanidade de outros com cores, gostos, jeitos, escolhas diferentes do meu mundo e pelas quais deveriam minimamente respeitar e não condenar, acusar, maltratar....
Parece que tão somente precisamos ampliar nossos horizontes de mundo, em um mundo de muitas cores e que nelas possamos encontrar equilíbrios para continuar sendo verdadeiramente humanos mesmo que vendendo balões.
 
 
[*] Psicóloga, Terapeuta Comunitária, Professora Universitária, Mestre em Educação pela Universidade de Passo Fundo (UPF), Doutoranda do programa de Pós-Graduação em Educação pela Universidade de Brasília (UnB). Assina a coluna Cine Emoção do Conselho Regional de Psicologia 1º região - DF.