A teoria da comunicação humana, um dos pilares da Terapia Comunitária
*Rolando Lazarte
*Rolando Lazarte
A teoria da comunicação humana é um dos pilares básicos da terapia
comunitária. Formulada por Watzlawick, Helmick-Beavin e Jackson, permite
compreender a ação humana como um comportamento em que são transmitidas
mensagens. Toda a conduta humana é transmissora de mensagens, inclusive quando
nos propomos a não comunicar, estamos dizendo algo: você não existe, você não
me importa, você não é de nada. Bem dizem que o contrário do amor não é o ódio,
mas a denegação. Na terapia comunitária, aprendemos que uma pessoa deixa de ter
sentido ou passa a ser ignorada deliberadamente, e isto acarreta conseqüências
para a sua auto-estima, para a noção de si, para o seu modo de ser e de se
comportar no mundo.
Uma criança que não foi desejada, desde o ventre materno soube disso, e veio
ao mundo preparada para ter que agradar, para dizer que sim o tempo todo, para
aceitar qualquer coisa em troca de um pouco de afeto. Uma que foi querida desde
a conceição, ao contrário, é capaz de dizer sim quando quer, e não quando não
quer. Estas constatações aparentemente muito simples, permitem com que a pessoa
comece a ver a si própria desde outro lugar, desde uma possibilidade de
auto-conhecimento autêntico, sem enganos, verdadeiro.
Muitas vezes, nas terapias ou nas formações de terapeutas comunitários, os
participantes são levados a descobrirem as falsas imagens que fizeram de si
mesmos, e que os tem aprisionado durante a vida toda, ou por longos períodos de
tempo. Quando a pessoa começa a se perceber como alguém que venceu muitas batalhas,
alguém que soube dar a volta por cima em circunstâncias que poderiam tê-la
quebrado ou desviado do seu caminho, o conceito de si começa a emergir de uma
maneira positiva.
O sujeito se descobre capaz de direcionar sua própria vida,
de dar um significado ao seu existir, de decidir o que quer que seja o seu
próprio ser. “O que você quer para eu querer” (a criança ou a pessoa boazinha).
“O que você quer para eu não querer” (o rebelde ou contestatário) são prisões
em que a pessoa deixa de ser ela mesma, perde a sua liberdade, age por
automatismos.
Quando aprendemos a decodificar as primeiras mensagens e a lê-las ao nosso
favor, quebram-se os determinismos da nossa vida. Se alguém se sentiu
abandonado, não querido, porque foi esperado menina e era menino, ou o
contrário, isto determinou reações que estiveram fora do seu controle, da sua
capacidade de decidir. Agiu durante anos contra o mundo, contra as pessoas, por
vingança: não me quiseram, não os quero. Muitos comportamentos agressivos estão
animados por uma reação de quem se sentiu não querido, não amado.
Muitas vezes a agressividade vai direcionada contra a própria pessoa, que
passa a conviver com um tirano interno, um sabotador da sua felicidade e do seu
direito a viver com alegria e segundo sua maneira única e irrepetível, no meio
aos outros.
Nas formações de terapeutas comunitários, um dos exercícios é a
descoberta do animal com que cada um se identifica. Formam-se grupos e os
coleguinhas que escolheram o mesmo animal, trocam figurinhas a respeito de si mesmos,
dos seus modos de ser característicos.
Isto faz com que cada um descubra sua natureza mais comum ou freqüente, suas
formas habituais de ser e de se comportar. Então, a pessoa deixa de se condenar
e de se comparar com os outros, descobre sua forma única de ser, e a aceita. As
mensagens recebidas (fui abandonado, não me quiseram) são re-codificadas em
função do contexto interpretativo que a interpretação sistêmica e integrativa
propõe, com base nos valores dos pais e da cultura em volta, e das escolhas
próprias a pessoa.
O que se aprende na terapia comunitária, em termos da
comunicação, é a sair ou tentar quebrar as armadilhas da comunicação paradoxal,
do duplo vínculo e das distorsões das mensagens equívocas que emitimos ou
recebemos. “Carta certa para pessoa errada”, é quando emitimos uma mensagem que
é correta no seu conteúdo, mas está sendo direcionada a quem não tem nada a
ver.
Quando a reação é desproporcionada ao fato, estamos reagindo não ao fato,
mas ao que ele nos remete. Estas chaves nos dão elementos para irmos
re-programando a nossa conduta desde uma visão mais atual, mais presente, menos
condicionada pelo passado.
O passado é visto como o estrume necessário para o
crescimento da planta. O presente desponta como um tempo novo, livre de amarras.
O empoderamento das pessoas e das comunidades depende em boa medida da
decodificação e re-codificação de mensagens recebidas e emitidas.
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